Blog de Gestão Estratégica

O ESG é Estratégico, Transformador e Inspirador

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O tema ESG: Environmental, Social and Governance é emergente e está na agenda de Empresários, Conselheiros, Dirigentes e Investidores em inúmeras regiões do mundo.

A Era Digital, da Indústria 4.0 e do Outcome Economy é também a Era ESG– Environmental, Social and Governance. As Pessoas, os Clientes e a Sociedade esperam que as empresas tenham maior responsabilidade sobre seus impactos nas áreas sociais, ambientais e econômicas.

Felizmente, observamos que inúmeros acontecimentos recentes vão não só na direção de sua maior divulgação, como também na atualização das clássicas abordagens de Gestão Empresarial:

a-) John Elkington renovou o conceito de Triple Bottom Line: Profit, People, Planet com a nova  abordagem ESG Green Swan;

b-) A atualização do BSC- Balanced Scorecard para o contexto da ESG proposto por Robert Kaplan, em artigo da Harvard Business Review de fevereiro de 2021’;

c-) A proposta de integrar à ESG a Metodologia Exponencial e o Mindset Agile.

Vale também mencionar o recente evento, Expert ESG 2021 promovido pela XP Investimentos, que proporcionaram inúmeras ideias e recomendações sobre o tema. A principal mensagem é que a Era ESG leva em consideração os interesses  de todos os Stakeholders da empresa – e não se restringe aos acionistas.

O BSC é Renovado Incorporando a Abordagem ESG

Robert Kaplan, criador da metodologia do Balanced Scorecard, em conjunto com David McMillan, publicaram um provocativo artigo na Harvard Business Review (fevereiro 2021), propondo a atualização (an update) do BSC, com a incorporação do ESG no Mapa Estratégico.

Segundo os autores, a abordagem do Triple Botton Line – Profit, People and Planet pode ser considerada um scorecard para os dirigentes de uma empresa ou corporação. De acordo com a metodologia do BSC, o Triple Bottom Line apresenta as características dos Temas Estratégicos, definindo as prioridades e o foco estratégico de uma organização.

Mais importante ainda, é que no artigo Kaplan & McMillan demonstram como o Balanced Scorecard e o Mapa Estratégico agilizam a implementação do ESG nas empresas.

As pessoas podem perguntar: por que usar o ESG integrado ao BSC? Resposta: porque o Balanced Scorecard foi concebido para descrever a Estratégia de uma empresa, na perspectiva de seus principais atores: Acionistas, Clientes, Empregados, Fornecedores e Investidores, visando a implementação do Plano Estratégico.

A Integração ESG-BSC Inova as Perspectivas de Valor

De acordo com a metodologia do BSC, as Perspectivas de Valor mostram o processo de criação de valor de uma Estratégia para os Stakeholders. Numa linguagem atual, elas traduzem as necessidades, os desejos, o Job-To-Be-Done de cada um dos participantes de uma organização em Objetivos e Resultados-Chave, ou melhor ainda, em OKRs.

Assim sendo, tomando como referência a proposta de Kaplan & McMillan propomos uma nova composição das Perspectivas de Valor e do Mapa Estratégico:

a.     Perspectiva dos Stakeholders: reflete os Objetivos, os Resultados-Chave da Triple Bottom Line: OKRs associados ao Lucro (Profit); OKRs relacionados à Sociedade (People) e; OKRs vinculados ao Meio Ambiente (Planet). A finalidade é a eficiência financeira da empresa em seu Ecossistema de negócios, a denominada ecolucratividade.

b.     Perspectivas dos Clientes e do Marketplace: reflete as necessidades, os desejos, as expectativas e o Job-To-Be-Done dos Clientes, que serão atendidos em determinadas circunstâncias na Arena do Consumo, ou Marketplace, ou ainda, por uma Plataforma de Negócios.

c.     Perspectiva dos Processos Sustentáveis e Inovadores: refletem os fluxos de valor existentes na organização, fundamentados na ecoeficiência, na produção lean, na cadeia de valor integrada, nas inovações tecnológicas (sustentadoras e disruptivas), nas inovações ambientais, nas inovações em serviços (desmaterialização dos produtos), no supply-chain responsável e nos canais de distribuição físicos e digitais.

d.     Perspectiva das Pessoas Capacitadas e Engajadas: reflete a formação de uma Equipe de Profissionais alinhada e engajada ao Propósito Transformador Massivo, à Cultura ESG, com o domínio das Core Competences necessárias para a implementação da Estratégia Competitiva – além da capacidade de inovar o Modelo de Negócio da Empresa. As Pessoas sentem que são valorizadas é que há oportunidades de crescimento e reconhecimento por meio da meritocracia.

A integração ESG-BSC demanda líderes em todos os níveis da organização, equipes multidisciplinares de alta performance, um design organizacional plano que estimula a tomada de decisões, tanto no sentido Top-Down, como no sentido Bottom-Up, revela transparência das informações, a responsabilidade (accountability) profissional e o respeito ao princípios da Governança Corporativa.

Notar que não recomendamos a inclusão de uma quinta perspectiva no Mapa Estratégico, não só para tornar mais fácil sua aplicação, mas principalmente porque se os líderes da empresa assumirem a filosofia do ESG seus princípios serão refletidos em toda a organização.

Em síntese, a integração ESG-BSC é uma abordagem participativa, valoriza o trabalho colaborativo entre todos os stakeholders e mostra os benefícios e os resultados-chave de uma empresa governada para realizar alta performance em termos financeiros, sociais e ambientais.

A abordagem do Green Swan (Cisne Verde)

Há um fato no mundo dos negócios que não pode ser desconsiderado: a nova geração de pessoas, os millennials, valorizam cada vez mais as questões associadas ao meio ambiente e aos problemas sociais (pobreza, desemprego e desigualdade social).

É também evidente para um número considerável de empresários, que os negócios não poderão prosperar a longo prazo, num ecossistema social com elevada desigualdade social, pobreza e desemprego – e ao mesmo tempo em um ecossistema ambiental com a degradação da natureza e das riquezas naturais.

É nesse contexto que John Elkington procurou renovar, ou ainda, apertar o F-5 em relação à Triple Bottom Line e à ESG- Environmental, Social and Governance. Para ele a nova abordagem leva em consideração inúmeras ideias sobre o Capitalismo Regenerativo e o Capitalismo Consciente. Sua nova proposta é denominada de Green Swan, por mais esquisita que seja a expressão.

A nova abordagem de John Elkington é uma resposta e um contraponto à recomendação de Milton Friedman, quando afirmou que “a reponsabilidade social da empresa é maximizar o lucro” (1970).

Podemos considerar a proposta do Green Swan (Cisne Verde) como uma antítese e o reconhecimento da ideia do Cisne Negro de Nassin Taleb. Relembrando o conceito, um Cisne Negro é um evento de extrema raridade, fora da curva, imprevisível e com um impacto exponencial negativo, causando fortes crises e danos para as pessoas, empresas e para a sociedade.

Porém, segundo Elkington, a deterioração do meio ambiente, a desigualdade social, a mudança climática e a pobreza – sem falar no populismo político e no nacionalismo – não são eventos desconhecidos. Todos esses fatores são bem conhecidos e estão presentes com frequência na mídia.

Inúmeras pesquisas e informações, mostram que apesar de toda boa vontade – e até mesmo idealismo – as soluções tradicionais não estão resolvendo os problemas socioambientais, que na verdade estão se agravando nos últimos anos. Sendo bem claro: a crise que se avizinha e a catástrofe em potencial são previsíveis e estão presentes diariamente na mídia. O que está faltando são soluções proativas, que entregam resultados exponenciais. É preciso reverter a atual situação, ao invés de sofrer os impactos semelhantes de um Cisne Negro. O novo desafio é a implementação da filosofia Green Swan (Cisne Verde).

É nesse contexto que a abordagem do Green Swan-ESG deve ser entendida. O novo framework busca soluções sistêmicas, disruptivas, exponenciais e ágeis para esses problemas globais. É uma proposta colaborativa e inclusiva, envolvendo todos os Stakeholders: empresários, dirigentes, colaboradores, fornecedores, investidores e membros da sociedade civil.

ESG exige Resultados Exponenciais derivados de Objetivos Ousados

Para os analistas e os críticos do framework ESG está evidente a necessidade de maior agilidade e a obtenção de resultados exponenciais para as questões socioambientais. Também não há dúvidas que as tradicionais metodologias de gestão e as políticas públicas não estão preparadas para enfrentar a complexidade inerente à solução dos problemas socioambientais.

Em nosso entendimento as propostas de John Elkington (Green Swan), mais a atualização do Balanced Scorecard integrado à ESG podem se beneficiar com a utilização dos OKRs- Objetivos e Resultados-Chave, aplicados para a solução de problemas socioambientais.

Uma das características mais importantes do framework dos OKRs é a definição de Objetivos Ousados (Moonshots). Eles visam superar o gap de resultados, estimulando a imaginação, novas ideias, a inovação e soluções disruptivas. E, o mais importante, eles são derivados de um Propósito Transformador Massivo, de uma Estratégia Ágil e implementados de acordo com o Mindset Agile, por uma Equipe Multidisciplinar capacitada e engajada.

Outra importante característica dos OKRs é a Gestão Contínua do Desempenho, por meio de check-ins periódicos (semanais, mensais, trimestrais) onde os avanços das iniciativas em direção aos resultados são monitorados. A pergunta frequente dos membros da equipe é a seguinte: houve progresso na solução dos problemas socioambientais? Se não, quais são os obstáculos e como eles podem ser removidos.

Além disso, a característica multidisciplinar dos OKRs permitem a sua integração com outras metodologias como o Scrum (e os Sprints), o Kanban (e os Backlog), o Design Thinking (e as User Stories dos Stakeholders) – tudo isso,  sem mencionar as importantes contribuições das finanças aplicadas às Startups e seu constante cuidado com o burn-rate, isto é, o volume de capital consumido até produzir os resultados.

Dessa forma, a integração ESG-BSC-OKRs proporciona um inovador framework que possibilita a visualização das iniciativas, o engajamento dos envolvidos e se os avanços estão de acordo com as expectativas de todos os Stakeholders – e se serão concluídos no horizonte de tempo definido para os objetivos.

Finalizando, devido aos desafios inerentes à nova proposta, a integração ESG-BSG-ESG será objeto de um novo artigo, específico para os temas considerados.

O Triple Bottom Line precisa de um recall?

John Elkington, o criador do conceito de Triple Botton Line: Profit, People and Planet, em seu livro, Canibais com Garfo e Faca (1997), vem recomendando a necessidade de uma atualização, ou melhor ainda, de uma Transformação Sistêmica na Sustentabilidade.

Em seu recente livro, Green Swans: The Coming Boom In Regenerative Capitalism, ele afirma que é preciso alcançar resultados exponenciais em ESG. De acordo com inúmeros analistas as empresas, os governos, os empresários e as ONGs não estão fazendo o suficiente para atingir os resultados do milênio da ONU.

Segundo Elkington, há uma verdade inconveniente a ser compartilhada: os sistemas políticos, os governos e os empresários não estão preparados para enfrentar a magnitude dos desafios e realizar as mudanças necessárias. Especificamente, as demandas são exponenciais e os resultados têm sido lineares.

Em relação às iniciativas de sustentabilidade, Elkington faz uma surpreendente analogia: se um consumidor compra um automóvel com defeitos, ou ainda, se a montadora percebe falhas, que colocam em risco os motoristas, ela realiza um recall, corrigindo os problemas.

Da mesma forma, se um framework sobre Sustentabilidade, ou uma metodologia de Gestão Empresarial não entrega o que prometeu é preciso fazer um recall. Na visão de Elkington as abordagens socioambientais, que não entregam os resultados prometidos deveriam ser submetidas a um recall.

Nessa linha de raciocínio, o  jornal Financial Times publicou uma provocativa matéria intitulada: Capitalism. Time for a Reset, em sua edição de 23.09.2019. O artigo afirmava categoricamente que uma empresa deve ter lucro, mas também deve servir a um propósito (social e ambiental).

Na perspectiva da ESG, os países enfrentam simultaneamente um conjunto de temas estratégicos: a emergência climática, a pobreza e a necessidade de uma recuperação econômico-social pós-pandemia. Porém, esforços isolados, ou ainda, a aplicação equivocada das abordagens socioambientais, não irão solucionar os problemas – é preciso uma ação colaborativa e integrada para se atingir resultados exponenciais.

É nesse contexto que empresários, pesquisadores e professores como John Elkington, Bill Gates, Raj Sisodia, Robert Kaplan, David McMillan, Paul Polman, Andrew Savitz, Élisabeth Laville, entre outros, estão propondo um novo mindset e um novo conjunto de metodologias e ações para resolver os problemas socioambientais. Segundo esses autores, problemas exponenciais, estão à procura de oportunidades exponenciais e soluções exponenciais – não soluções superficiais, isoladas, políticas e lineares.

A Abordagem ESG é multidisciplinar e reflete a Empresa Consciente

É importante destacar como a abordagem ESG vem se consagrando e se tornando uma exigência em termos de Gestão Empresarial, Governança Corporativa e Investimentos Sustentáveis.

A relevância da ESG- Environmental, Social and Governance engloba um conjunto de abordagens, como por exemplo, Triple Bottom Line, Capitalismo Consciente, B-Corporate, Capitalismo Inclusivo, Responsabilidade Social Empresarial e a Governança Corporativa para Indústria 4.0.

A origem da ESG está associada ao Relatório Who Cares Wins – Connecting Financial Markets to a Changing World (Quem se Importar Vence – Conectando o Mercado Financeiro para Mudar o Mundo), desenvolvido pela ONU- Organização das Nações Unidas, com o apoio de grandes bancos e instituições financeiras.

O reconhecimento da importância da ESG evolui gradativamente e ganhou novo impulso com o apoio dos maiores Fundos de Investimento do mundo. Em 2005, com o apoio da ONU os grandes investidores institucionais lançaram o código PRI- Principles for Responsive Investiment (Princípios para o Investimento Responsável). A mensagem era bem clara: os investimentos devem levar em consideração a sustentabilidade.

O fato relevante do Código PRI é que ele leva em consideração, tanto os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) publicado pela ONU em 2000, como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável de 2015.

Com a adesão dos Bancos Centrais aos princípios do ESG, as principais Instituições  Financeiras e Bancos de Investimentos estão cada vez mais lançando fundos de investimentos com forte apelo social e ambiental. O mais importante é que os Fundos de Investimentos, principalmente da Europa e Estados Unidos têm apresentado nos últimos anos um rentabilidade superior aos investimentos tradicionais. No Brasil os Investimentos Sustentáveis vem sendo, rapidamente, valorizados pelos investidores e instituições financeiras.

Caso queira aprofundar ainda mais os conceitos sobre ESG, veja o artigo: O ESG para as Empresas é Viabilizado pelo Propósito, Estratégia e OKRs.