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O ESG é Viabilizado pelo Propósito, Estratégia e OKRs

ESG-2-OKRs

O ESG- Environmental, Social and Governance é uma abordagem socioambiental, inspirada, principalmente, nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 da ONU– Organização das Nações Unidas.

Esses objetivos representam um desafio global, uma vez que eles geram impactos em todos os países e foram aprovados por 193 membros da ONU. Os ODSs 2030 refletem um Propósito Transformador Massivo na vida das Pessoas, das Empresas e da Sociedade.

É quase consenso, que a Era Digital, da Indústria 4.0, da Outcome Economy é também a Era ESG. Um conjunto de propostas de pesquisadores, empresários, investidores e instituições públicas e privadas têm valorizado, ao mesmo tempo, tanto iniciativas socioambientais, como também, uma economia do bem comum – para utilizar a expressão de Jean Tirole, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2014.

Os fatores ESG reforçam um mindset humanista, um novo nível de consciência na busca de alternativas para uma conciliação entre o interesse individual e o interesse social. Dá importância ao resultado econômico, ao lucro, mas também considera essencial o bem-estar das pessoas, a preservação (e renovação) do meio ambiente e a proteção climática.

ESG e  ODSs 2030 os Novos Paradigmas para os Negócios

As questões socioambientais foram muito impulsionados pelo seminal livro de John Elkington, os Canibais de Garfo e Faca, publicado em 1997, onde ele introduz o conceito de Triple Bottom Line: Profit, People & Planet. O texto trás um mensagem muito provocativa: um canibal devorando tudo o que vê pela frente é mais civilizado porque está usando garfo e faca?

O livro nos oferece importantes insights e um framework sobre os desafios dos negócios do século 21 e, principalmente, como a agenda da Sustentabilidade terá uma velocidade cada vez mais acentuada. É o que podemos denominar, numa linguagem atual, de Agile Sustentability.

A valorização das metodologias socioambientais, como Elkington previu, no meio empresarial e nos gestores dos maiores fundos de investimento do mundo, mostra nitidamente a necessidade de superar a antiga mentalidade capitalista, cristalizada na proposta de Milton Friedman, em 1970:

“A responsabilidade social da empresa é maximizar o lucro.”

Há a necessidade de um recall neste conceito. Agora, cada vez mais, os empresários, dirigentes e investidores estão assumindo um novo propósito:

“Fazer o bem, faz bem para os negócios.”

Essa nova mensagem ESG é uma evolução – e uma nova consciência – em relação às pioneiras ideias de responsabilidade social empresarial de não causar danos, ou provocar externalidades negativas nas operações das empresas.

Na nova abordagem dos negócios, a Sustentabilidade é o novo mecanismo de crescimento econômico. Ela recomenda, que as questões sociais e ambientais devem merecer o mesmo tratamento que é dado para os objetivos de lucro. Há o que podemos considerar como uma tensão criativa entre os objetivos de lucro e a busca do bem comum para as pessoas, a sociedade e o planeta.

O lucro é essencial e questão de sobrevivência para as empresas, mas agora também é preciso considerar outros fatores importantes para a saúde empresarial:

a-) A consistência da Estratégia Empresarial e sua ágil implementação;

b-) O Cliente no centro dos negócios e o reconhecimento de seus valores socioambientais;

c-) Os critérios para a realização de investimentos sustentáveis;

d-) O compromisso e o engajamento dos colaboradores com o propósito e os valores;

e-) A criação de Valor Compartilhado e de Riqueza para todos os Stakeholders.

É nesse contexto, que o conceito de Desenvolvimento Sustentável, cunhado em 1987 no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU  deve ser entendido:

“É o desenvolvimento que atende às necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras atender às suas próprias necessidades”.

O ESG como um Propósito Empresarial

O crescente interesse, um novo despertar, para as questões socioambientais também  está sendo estimulado devido às inúmeras mensagens dos gurus de negócios, de economistas, empresários e investidores. Diferentes publicações mostram a crescente relevância dessas questões sociais, ambientais e climáticas para os negócios.

As abordagens mais conhecidas são: Criação de Valor Compartilhado (Michael Porter e Mark Kramer), Capitalismo Consciente (Raj Sisodia), B Corps (Ryan Honeyman), ou ainda, Green Swan (John Elkington, o criador do conceito de Triple Bottom Line). Também é preciso mencionar a provocativa Carta aos Acionistas de Larry Fink, CEO da Black Rock, em 2018.

O novo desafio empresarial é o de produzir bens e serviços, sem causar danos desnecessário à sociedade e ao meio ambiente. E, ao mesmo tempo, é usar os negócios para inspirar pessoas e implementar soluções socioambientais inovadoras.

Essa nova abordagem ressalta a importância de um Propósito Inspirador para uma empresa.  A Sustentabilidade deve estar incluída no Propósito. Como nos ensinou Simon Sinek, o ponto de partida de uma organização é a definição de seus Por Quês. De acordo com Sinek, “as pessoas não compram o que você faz; elas compram o por quê você faz isso”.

Esse novo significado dos negócios gera um novo corolário: sem a ação empresarial os ODSs 2030 e os fatores ESG dificilmente serão atingidos. Os empresários precisam ter uma visão clara de como o Modelo de Negócio, as Operações empresariais e a Cadeia de Valor, da qual participam, cria um impacto positivo (ou negativo) na sociedade e no meio ambiente.

O ESG precisa estar no Core Business da Empresa

Sem dúvida, as Corporações e Grandes Empresas devem ter preocupação com o Retorno sobre o Investimento, a criação de EVA– Valor Econômico Agregado e do  Free Cash Flow.  Os Acionistas e os Conselheiros avaliam a qualidade de gestão de uma Diretoria Executiva pelo bottom line, ou o Lucro Líquido.

É uma preocupação importantes, mas na perspectiva da Sustentabilidade ela é incompleta. Como aprendi com Peter Drucker, o lucro é o que gera recursos para a realização dos objetivos maiores de uma organização. Mas, também devemos reconhecer, que uma empresa independentemente de seu perfil, pode gerar resultados e impactos negativos em termos econômicos, sociais e ambientais.

Diante dessas considerações, o foco exclusivo do Lucro é insuficiente. O novo mindset de sustentabilidade afirma, que uma empresa deveria atender às necessidades e expectativas de todos os seus stakeholders – e não se restringir aos acionistas. Vivemos, o que podemos denominar de Capitalismo dos Stakeholders.

Nesse sentido, os executivos são desafiados a rastrear e monitorar a Criação de Valor, de uma forma mais ampla, em termos Financeiros, Sociais e Ambientais. Ou mais precisamente, a Sustentabilidade deve ser avaliada em termos do bem-estar que ela promove para as pessoas, que vivem em suas sociedades, além dos cuidados com o meio ambiente e as mudanças climáticas.

Essa nova integração entre o econômico, o social e o ambiental somente se transformará em realidade se eles fizerem parte do core business da empresa – e não ser considerada uma atividade separada, ou ainda, complementar e delegada para uma área administrativa denominada de sustentabilidade, responsabilidade social empresarial ou filantropia.

Conforme nos explicou Michael Porter, não há um trade-off entre a eficiência econômica e o progresso social. Sua proposta recomenda a Criação de Valor Compartilhado para a Empresa e para a Sociedade. O sucesso de uma empresa em termos econômico precisa estar integrado ao sucesso social. O foco na criação de valor econômico, através da criação de valor social pode ser uma poderosa força motriz para os negócios – é o motor da produtividade e da criação de riqueza social.

A Criação de Valor Compartilhado exige um redesenho, uma nova configuração da Cadeia de Valor, ou melhor ainda, do Modelo de Negócios. Uma corporação ou uma empresa não pode ignorar o contexto maior em que está inserida – a sociedade e o ecossistema natural.

A responsabilidade de uma empesa não termina na porta da fábrica”.

Em resumo, segundo Porter, o lucro empresarial associado a um propósito social é uma forma superior de capitalismo.

O ESG é melhor realizado pelas Metodologias de Gestão Empresarial

É consenso entre os especialistas, que a entrega dos resultados definidos pelo ESG não serão atingidos de forma isolada, por iniciativa de Empresas Sociais, Governos e das ONGs – por melhor que sejam as intenções. Sem o efetivo engajamento do Setor Privado, mais especificamente, das Corporações, das Empresas e dos Fundos de Gestão de Investimentos, dificilmente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável serão concluídos.

Sabemos que não será por falta de boas intenções, de idealismo e de fraternidade, que os resultados pretendidos pelo ESG não serão alcançados. Mas sim, porque o montante de recursos necessários para isso são muito elevados. Especificamente, as ONGS, a filantropia e a responsabilidade social empresarial não tem tido condições de criar e mobilizar o volume de capital, que as empresas privadas e as instituições financeiras são capazes.

A solução conforme John Elkington, Michael Porter, Raj Sisodia, Bill Gates, Elisabeth LavilleLarry Fink, entre muitos outros, é a integração de todos os atores sociais e privado, por meio de um Propósito Transformador Massivo, o centro de irradiação do ESG.

O Propósito Transformador, incorporando o ESG, é o ponto de partida para a criação da Estratégia, que possibilita a configuração de Modelos de Negócios Sustentáveis, que por sua vez, aciona o Motor Econômico-Social da empresa (Receitas, Lucro, Criação de Valor), que nos levam às prioridades e os OKRs- Objetivos e Resultados-Chave. Mais especificamente, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 podem ser considerados como os OKRs global.

As pessoas e os ativistas sociais podem perguntar: por que as metodologias de Gestão Empresarial podem ser úteis para o ESG e para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável?

A resposta precisa dar ênfase, que a transição, ou a evolução, da situação atual de uma empresa ou país em termos de ESG, ou para a entrega dos resultados dos Objetivos de Sustentabilidade 2030 – não é uma questão de melhoria contínua e de avanços lineares. Mas sim, de um Propósito Transformador Massivo, de Inovações Disruptivas e de Avanços Exponenciais, conforme recomendado por John Elkington.

Basta olhar para a data-limite de 2030 para constatar, que o horizonte de tempo de 9 anos é longo e demorado para as pessoas e para as sociedades a serem beneficiadas – não é possível esperar os relatórios finais em 2030 para verificar se as metas foram atingidas, ou ainda,  sobre o que foi efetivamente conquistado, em termos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Como a Estratégia Ágil e os OKRs podem ajudar a consecução do ESG?

A complexidade e dificuldade para a realização dos ODSs são evidentes: a ONU definiu 17 Objetivos que geram 167 iniciativas, ou projetos. Lembrando, que eles foram definidos por meio de consulta pública, nos 193 os Países Membros da ONU.

Porém, antes de iniciar o projeto, há uma importante questão a ser considerada. As diferenças culturais, as características geográficas e os interesses políticos específicos dificultam a integração, a definição por onde começar e principalmente, como realizar a coordenação dos esforços. Ainda mais, quais seriam as prioridades definidas pela população dos diferentes países?

Complicando o quadro, esse elevado volume de trabalho pode gerar um estresse nos executivos e nas pessoas em relação por onde começar. Como sabemos, as melhores práticas de gestão empresarial nos alertam, que a essência da estratégia é fazer escolhas – entre o que é preciso fazer e o que não devemos fazer. Nesse sentido, os dirigentes precisam selecionar poucos objetivos e ter foco.

Porém, os Objetivos de Desenvolvimento da ONU são essenciais, estão validados e há o reconhecimento mundial, que eles precisam ser implementados. Portanto, a escolha já foi realizada – não há trade-offs – todos eles precisam ser concluídos com agilidade. É nesse contexto que as metodologias de gestão empresarial precisam ser consideradas e utilizadas.

Usando a linguagem dos negócios, os fatores ESG e os ODSs 2030 têm um Propósito Transformador bem definido: a transformação do Mundo para o Desenvolvimento Sustentável, proporcionando vida digna para as pessoas, preservando o meio ambiente e sem comprometer os recursos para as próximas gerações.

Conforme já sabemos os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável 2030 estão sendo implementados desde 2015. A grande dúvida, na cabeça das pessoas, em  relação aos ODSs 2030 é se eles estão efetivamente sendo implementados e se as metas serão atingidas na data prevista. Na resposta a essa questão, a metodologia dos OKRs- Objectives and Key-Results podem ser de grande utilidade.

Os OKRs possibilitam a Implementação Ágil dos Objetivos ESG

Os OKRs (Objetivos e Resultados-Chave) foram criados no interior de uma Startup do Vale do Silício, a Intel, por Andrew Grove, CEO da empresa, na década de 1980. Naquele momento, como o contexto atual, a Tecnologia da Informação, as Inovações Disruptivas e o rápido lançamento de Novos Produtos eram essenciais para o sucesso empresarial.

As pessoas viviam na prática os efeitos da Lei de Moore e refletia o agora denominado Startup Way, a mentalidade empreendedora, combinada com inovações disruptivas para a introdução de novos negócios e a rápida criação de riqueza.

Nesse sentido, o conceito de OKRs pode se revelar muito importante para as pessoas e as organizações engajadas no ESG. Segundo John Doerr,

“Os OKRs são uma metodologia de gestão que ajuda a garantir que a empresa concentre esforços nas mesmas questões importantes em toda organização.”

A mensagem de Doerr para os Objetivos de Sustentabilidade é bem clara: para ser realizado com a rapidez necessária, o ESG deve envolver todos os Stakeholders de uma organização e membros da sociedade. Mas, por que os OKRs podem ser úteis para o ESG?

O que é um Objetivo segundo os OKRs?

Os OKRs definem objetivos ousados (moonshots) como são os Objetivos de Sustentabilidade. De acordo com Doerr, um objetivo é o que deve ser alcançado eles são “significativos, concretos, orientados por ações e (de maneira ideal) inspiradores. Quando adequadamente projetados e implementados, são uma vacina contra o pensamento e a execução confusos.”

Um ponto a ser destacado é que inúmeras pessoas idealistas, que atuam em Organizações Sociais, em ONGs e em Instituições Filantrópicas, às vezes, mostram uma certa resistência à abordagem empresarial. Porém, uma Filantropia-Empreendedora pode fazer toda a diferença na utilização dos escassos recursos disponíveis em relação à amplitude e complexidade das atividades a serem realizadas.

O que é um Resultado-Chave segundo os OKRs?

Não há dúvida que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2030 exigem Resultados-Chave, isto é, a visão dos 17 objetivos precisam se tornar realidade – não podem continuar sendo um sonho a ser atingido em um futuro remoto.

E, mais uma vez, a abordagem dos OKRs dá sua contribuição. Nas palavras de Doerr, “os Resultados-Chave (KRs) estabelecem e monitoram como chegamos ao objetivo. Os OKRs são efetivos específicos e limitados no tempo, agressivos, porém realistas. Acima de tudo, são mensuráveis e verificáveis.”

Mais especificamente, os Resultados-Chave precisam ser quantificados e precisam passar por um crivo: se não tiverem números não podem ser considerados como resultados.

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável têm uma data para serem concluídos: 2030. Então, a partir de onde estamos o que é preciso fazer?

De imediato é preciso reconhecer, que o ESG não é uma Agenda ou um Relatório de Administração da Diretoria para os acionistas e o mercado. O ESG reflete um Propósito Transformador Massivo, apoiados pelos OKRs, que por sua vez, são a Estratégia em ação, rapidamente implementada e com mensuração periódica dos avanços (milestones).

No próximo artigo vamos explorar mais um importante conceito para a Era ESG:  o Green Swan, uma inspiradora ideia para as pessoas usarem as Inovações Disruptivas, as Tecnologias Digitais, o Mindset Agile e o Startup Way para a conquista dos desafiadores Resultados-Chave dos ODSs 2030 da ONU.

Caso queira aprofundar ainda mais os conceitos sobre ESG, veja o artigo: O ESG é Estratégico, Transformador e Inspirador. 

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